terça-feira, 30 de junho de 2009

Por não estarem distraídos



Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.


Clarice Lispector

segunda-feira, 22 de junho de 2009

(Des)Encontros...


Se encontraram numa noite comum, depois de um dia comum. Ele procurava uma aventura nova, alguém pra “apimentar” a vidinha sem graça e vazia dos últimos tempos...Ela procurava provar pra si mesma a teoria de que “antes só do que mal acompanhada”, sua auto-suficiência e a descrença nessa idéia ridícula de amor à primeira vista (afinal, de quem foi essa idéia tola? Pensava ela, sem saber...). Ele reparou na timidez, no jeito nervoso como ela falava e como ela era mais bonita pessoalmente, ela reparou no sorriso encantador e no contorno do nariz, e no jeito que ele ajeitava o cabelo... E se beijaram no silêncio daquela noite mágica... E viram o sol nascer juntos, e riram, e contaram histórias...E se despediram. No próximo encontro ele descobriu que ela não era tão legal assim, passada a surpresa inicial ela não parecia tão bonita, nem tão engraçada, nem tão atraente quanto outrora. E ela descobriu que ele era “o cara” pra ela, e ria de tudo que ele dizia, e achava aquela música mesmo ótima... E se despediram de novo, ele tinha encontrado uma aventura afinal, e ela havia encontrado o que não estava procurando...o amor! Agora ela não consegue dormir, com essa dor e esse vazio enorme que sente...
E ele está vivendo a vida dele como sempre fez, mas ela nunca mais foi a mesma depois daquele encontro...

domingo, 14 de junho de 2009

Quase nada


"De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvioUm rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei

Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada"
=*=*=*=*=*=*=*=*=*=*=*=*=*=*=*
Esse encontro com o desconhecido me faz querer acreditar na idéia que sempre abominei: o destino... Eu nunca acreditei em destino, por que detesto a idéia de que não posso controlar minha própria vida, mas nesse momento eu quero acreditar que existe este tal de plano traçado, esses encontros marcados em outra vida...Eu quero acreditar que eu tenho um destino, e que você está nele!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sonhos...




"Eu plantei meus sonhos onde você está pisando agora...pise com suavidade, pois você está pisando nos meus sonhos"




Sim...estamos nostálgicos hoje...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Viajar é preciso!


"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver"

Amyr Klink

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ouvir estrelas...





"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac